Agnes de Deus

Um tema para ir a fundo 

O texto de John Pielmeier aborda a investigação de um crime: O assassinato de um bebê recém-nascido, supostamente cometido pela própria mãe, a jovem freira. Baseado em fatos reais, o autor nos conta os desdobramentos da investigação. A história se inicia  quando um bebê é encontrado morto, em um cesto de lixo, num quarto de um convento. O escritor entrelaça suspense, ética,  politica, abuso, medos e o sentir femenino frente às instituiçoes – a sociedade,  o confronto de três mulheres com diferentes histórias e dores semelhantes.  A peça encanta realizadores e artistas por ser ainda atual nos sentires femeninos.

Dirigida por Murilo Basso, talentoso, que talvez por estar à frente de ótimas atrizes como Clara Carvalho e Mariana Muniz, tal encantamento tenha falado mais alto, impedindo-o de se aprofundar na pesquisa dos temas abordados e na direção das atrizes.

À frente do diretor os temas (ainda) complexos – religião, educação, repressão sexual, autoridade, moral e a ética, numa Europa conservadora, a colocar sexualidade e prazer feminino em xeque nas várias instituições. 

Ao longo do texto observam-se os corpos das personagens sendo agredidos num processo contínuo de autopunição e desconstrução.

A personagem da Madre Superiora, de Mariana Muniz, não encontra seu peso e o desenho abordado confunde o espectador pela leveza do movimento.

Clara Carvalho, diretora, atriz e professora, faz sua personagem realista, com brilhantismo e compreensão do texto e do seu papel; talvez a experiência particular a tenha levado a criar, de forma intensa e precisa, cheia de sentimentos e verdade cênica.

Gabriela Westphalen, em temidas emoções da personagem e contradições próprias da situação vivenciada por Agnes.

O figurino, de Marilenense Artistismos, sem conceito claro do drama vivenciado.

Meu destaque é para o desenho de luz de Aline Santino – belíssimo. A trilha sonora de Sorris e o ponto alto da montagem, encontrando os acordes e os sons exatos para cada ação.

O cenário criativo de Mira Andrade, se propõe criar ambientes para cada situação, conseguindo levar o público a cada espaço.

A produção bem cuidada de Ariel Canal. 

Um texto como este requer mergulhar mais profundamente sobre o emenino, ética, sexualidade, instituições e política. 

Falar das mulheres e o quão complexos às vezes são esses seus sentires, da política do corpo a que são submetidas, é algo que urge, ainda, mais em sociedades nas quais o dia a dia se transforma em luta desde o nascer do sol. 

 

Pâmela Duncan 

Eugenia Alice revisão 

Blog pensamento www.pameladuncan,art.br

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