FentePira

Festival Nacional de Teatro de Piracicaba

Participei do Fentepira –   Festival Nacional de Teatro de Piracicaba, como mediadora, a convite da organização deste mesmo Festival e do Sesc Piracicaba; anteriormente já havia participado  como júri e mediadora de outros festivais de teatro em vários Estados do  Brasil e no exterior.  O Fentepira está em sua 19ª edição,  caminhando para se consolidar como um evento destacado no Estado  de são Paulo.

A Curadoria comprometida de Valdir Rivaben e Soraya Martins Patrocínio   foi  feliz nas várias escolhas – já que tiveram que  assistir 183 trabalhos para selecionar  10 deles, trazendo grupos do Estado de São Paulo e de  diferentes regiões do País. 

Alguns grupos me chamaram atenção proporcionando  alegria de presenciar o teatro de pesquisa e profissionalismo nos participantes. Verdadeira festa teatral. 

O festival se inicia com o grupo  Cia 2, no espetáculo Mobi Dick e os Caçadores de Baleias –  atores  afinadíssimos com  improvisações e contato direto com o público; espetáculo de pesquisa  dos criadores que encantaram a plateia desde o início da performance.  A Cia 2 se mostra com extremo  domínio de cena e um trabalho de clown perfeito, bem conceituados dos figurinos ao cenário.

O monólogo “ Travessias da Filha do Ganga e da Filha Pindorama”, de Nova Iguaçu, RJ,  apresenta-se na sua cidade, em escolas  e centros educativos –  traz-nos  um ator com conhecimento do oficio  e  direção de cena bem desenhada que encanta os menorzinhos .

 

Pira Semos, Piracicaba  

Espetáculo para todas as idades, descortinando-se em cenas que resgatam acontecimentos dos últimos 50 anos de Piracicaba. Sem compromisso rígido com a cronologia ou mesmo com a realidade, traz referências de propagandas e reportagens de rádio, esclarecendo histórias, como a do famoso Xoxó do Cemitério da Saudade. Pira Semos é o resultado de volumosa pesquisa e conversa do elenco com antigos moradores – mais do que isso: é declaração de amor à cidade cantada em verso e prosa. Dirigido por Carlos Abc. Os figurinos bem conceituados e  a alegria de verem-se as personagens da Cidade em cena.  

O público reconhece algumas personagens  enchendo-se de sentimento e alegria .

 A Arrombada, um trabalho da Cia Metamorfose, PIracicaba, também sob a direção de  Carlos ABC, mostra, talvez, o melhor trabalho de corpo e pesquisa do festival;  trabalharam mais de um ano no preparo do texto, no preparo corporal  e no estudo de “commedia dell’arte” e do teatro físico. Com excelentes atores,  divertem  a plateia do teatro lotado. Carlos ABC, um diretor autodidata , experiente e magistral.

Riso Show, do Grupo MB Circo de Piracicaba, no Espaço do Engenho Teatral, traz o espetáculo para todo público  a partir de uma kombi onde três completos atores, musicistas e circenses, fazem a alegria da criançada e da plateia,  participantes de forma ativa a cada jogo e números  cômicos e bem realizados.

 O grupo Futuros Carecas -São Joao del Rey  apresenta um audacioso olhar de Plinio Marcos com o espetáculo Dois perdidos em uma noite suja – muitas horas de muitos meses de pesquisa dos dois intérpretes que, muito próximos  do público,  mostram um olhar visceral da obra do “autor maldito”, onde cada um de nós sente  Plinio Marcos nas suas entranhas. 

O festival fechou com duas atrizes de Campinas da Cia Matula com a obra Como se fosse –  que traz a violência verbal e física sofrida pelas  mulheres em muitos lares e na sociedade – um espetáculo sobre a realidade que dia a dia nos toca viver,  a nós todas; aumenta o feminicídio na sociedade, ficando incontrolável . Como se Fosse é uma peça teatral baseada no texto da dramaturga espanhola Gracia Morales, com direção de Verônica Fabrini, diretora com conceito e desenho do espetáculo que me impressionaram. Na minha opinião, uma das melhores diretoras que tenho visto ultimamente. 

O Fentapira 2024 terminou já pensando nas preparações para os 20 anos a partir da avaliação e  correção das falhas presentes.

 

Como diretora e pesquisadora senti-me  feliz pela participação no festival – refleti  sobre o fazer teatral nos tempos que correm em São Paulo onde, a contínua pressa da vida de artista, com as lutas características pela sua sobrevivência; a corrida atrás de um edital; conseguido este edital, ruma-se para a construção dos projetos; elaborados os projetos, o pouco tempo para a pesquisa e os ensaios para, enfim, a curta temporada… Termina-se a temporada…  Então, partimos para a busca de outro edital… rápido para colocar mais um trabalho em cena,   fazendo com que a pesquisa teatral dos grupos entre em falência. Não há mais longas temporadas e nem o tempo para a pesquisa aprofundada… Esta mudança trouxe e traz desgaste ao primor que o teatro paulista viveu. O artista deve viver dignamente,  sei bem disso,  portanto acredito na readequação do modo de produção artística e cultural que nos leve ao ponto de equilíbrio necessário entre a arte e a economia criativa. produção.

Observa-se que os principais diretores, em outros países, não se estabelecem em capitais, mas em cidades do interior. 

Talvez venha das periferias ou das cidades próximas das Capitais culturais a renovação artística.

Foi esta a reflexão que me ficou após o festival.

Um respiro artístico e a consciência de que existe muita arte fora das grandes  Urbes.

Longa vida ao Fentepira, seus organizadores e gestores!!! 

Parabéns !!

 

Pamela Duncan 

Revisão Alice Eugenia 

 Blog pensamento www.pameladuncan.art.br

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