Furacão

 A catástrofe diária

Baseada na obra do escritor francês Laurent Gaudé, “FURACÃO”  personifica em uma mulher a dor, o lamento e a situação dos excluídos ante as catástrofes climáticas que devastaram New Orleans, nos Estados Unidos, pela chegada do furacão Katrina (2005).
Exalta a moral comovente daqueles que, apesar de tudo, permaneceram em pé.
A fúria da natureza está instaurada na cidade e,  como numa “peste”, faz surgir a escuridão moral de cada habitante.
O que resta ao ser humano quando  suas referências morais e sociais desaparecem entre o caos e o medo neste cenário dramático?
Assim como em “a peste” ( Antonin Artaud), cada um atua na  sua própria essência .
Os negros e pobres, abandonados a sua própria sorte. No entanto, não só em 2005,  essas histórias vêm se repetindo, bastando abrir um jornal ou ligar as mídias para vermos situações semelhantes. Frente a isso, emudecemos.
A peça transcorre como um lamento, num ritmo muito próximo dos   “negro spiritual”,   comum nas comunidades negras dos Estados Unidos e  escravizados no século passado.
A atriz Sirléa Aleixo valoriza o seu monólogo, transformando-o num espetáculo de trabalho corporal bem delineado e de emoção visceral.
Em cada palavra do texto  o público sente a violência instalada, própria do racismo estrutural no qual a sociedade vive.
Durante toda a obra a atriz performa tendo como fundo as canções da também cantora  Taty Aleixo.
Do repertório fazem parte canções jazzísticas interpretadas de forma sublime e emocionante, envolvendo o público em um clima de dor e melancolia.
Anderson Ribeiro e Rudá Brauns acompanham o andamento da peça criando diferentes climas e tons, o que torna a obra ainda mais forte e  profunda no sentir do público.  Ótimos músicos.
Ana Teixeira e Stéphane Brodt têm a direção sensível e delicada, denunciando que o tema desenvolvido não faz parte do passado e sim do hoje.
Os  inquietos artistas assinam o figurino, bem conceituado, próprio de mulheres nas comunidades negras e protestantes, em igrejas nos Estados Unidos.
A cenografia não convence dentro da catástrofe moral e física retratada pela obra  – o ambiente criado  conserva-se  intacto frente a desestruturação   física e moral da cidade devastada.
O grupo Amok de Teatro faz 25 anos, mantendo a firmeza da fundadora e a ética dos seus componentes .
Longa vida  a seus idealizadores que nos entregam nas suas obras a existência do pensamento e pesquisa a resultar em peças marcantes para os públicos  para os quais  se apresentam.

 

Pamela Duncan
blog pensamento  www,pameladuncan.art.br

Alice Eugenia – revisão
18.jan a 16.fev | 2025

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