A liberdade do pensamento em cena
Meursault, a personagem do texto “O Estrangeiro”, é um homem comum. Recebe a notícia da morte da mãe, comete um crime, é preso, julgado, tudo gratuitamente, sem sentido, sendo assim mais um homem arrastado pela correnteza da vida e da História.
A sua vida pode ser lida como o drama de qualquer pessoa que se depara com o absurdo, como descrito por Camus.
Meursault não alega inocência, tampouco afeta arrependimento ou reivindica perdão. Ele se depara e se angustia com a liberdade e o absurdo, e reafirma sermos estrangeiros na própria sociedade em que vivemos.
Quando a luz se apaga escuta-se uma voz quase trêmula, que não se imagina ser da personagem.
A emoção do ator na primeira cena do espetáculo não fica bem definida. A peça prossegue, o ator se recompõe.
Guilherme Leme, o Meursault da montagem de “O Estrangeiro”,no andamento do espetáculo nos surpreende com uma delicada, instigante e envolvente interpretação. Transforma a verdade da personagem em sua, e o público se envolve e une-se a ele na jornada emocional do protagonista, embarcando numa viagem intensa e visceral.
A direção bem delineada e precisa, feita a duas mãos com a intensa Vera Holtz, transmite o universo angustiante e quase kafkiano da peça, que é próximo de todos nós, numa leitura comovente.
Os produtores escolheram para esta trajetória um iluminador com um design de luz de belíssimo andamento – Maneco Quinderé. Maneco acrescenta a cada cena o clima e o sentimento que o intérprete quer transmitir.
A trilha sonora de Marcello H pontua as passagens desta jornada intensa e o cenário de Aurora dos Campos, é bem conceituado e clean.
Vale à pena assistir “O Estrangeiro”, pelo prazer de ver um ator pleno em cena, num Teatro que faz parte da alma desta grande urbe e de seus habitantes.
Pamela Duncan
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