“Eu não posso ensinar nada a ninguém, eu só posso fazê-lo pensar.”
A peça narra os últimos momentos do filósofo
Sócrates (470 a.C.-399 a.C.), reconhecido como o pai da filosofia. Sócrates foi acusado por três cidadãos atenienses de corromper os jovens e de profanar os deuses de Atenas. Condenado à morte, recusasse a fugir da injusta condenação – mantendo-se coerente até o final da sua vida, como ele mesmo dizia: “Pedir para pagar uma multa, ao invés da pena capital, é confessar algo que não fiz”. O pensador representava uma nova era espiritual na sociedade – a do pensamento crítico que irrita, agride , gera desconfiança e precisa ser extirpado. Como toda sociedade mais tradicional veem em Sócrates o perigo da mudança do status quo. É necessário eliminar o foco que certamente irá nos eliminar.
Os produtores foram muito felizes ao trazer várias premissas que se repetem através dos tempos – liberdade de expressão, rejeição frente ao diferente, ética, crime e castigo são temas e acontecimentos que se repetem nas sociedades passadas atuais. Quebrar algum parâmetro ou trazer alguma diferença é, muita das vezes, pago com a morte. A história mostra homens e mulheres morrerem ao longo dos tempos por novas verdades, por comportamentos íntegros e éticos fazendo o pavor de muitas sociedades corruptas ou autoritárias.
O escritor Regis de Oliveira, pesquisador do tema, foi feliz na proposta e, lógico, na peça escrita, pois a essência do homem não muda muito.
Em relação à peça,por vezes a senti um pouco didática, explicando termos e situações. No entanto, nada que tire o mérito da obra.
Sócrates. desenhado e bem interpretado pelo talentoso ator Luiz Amorim ,mostra-se uma personagem livre, irônica e mesmo cômica nas suas exposições – “humano” se assemelha a qualquer pessoa comum que podemos encontrar em qualquer lugar também “comum”. Isto faz com que o público se apaixone e identifique-se com a personagem desde o início.
Experiente, o protagonista , encontra-se livre em cena, com a liberdade de um artista completo, dominando voz, sentimento e corpo.
Na direção, Bruno Perillo constrói um desenho delicado e bem conceituado para a montagem – nesta simplicidade está a beleza . Coloca os atores nos lugares , com movimentos e palavras certas.
Equipe de ótimos intérpretes acompanha toda a montagem e destacando-se a cada intervenção estão Carlos De Niggro, Breno Ganz, Juliane Arguello, Magnus Odilon, Marcus Veríssimo, Nalini Menezes, Priscila Camargo Priscilla Dieminger, Roberto Borenstein. Todos têm um momento de protagonismo. demonstrando talento e paixão pelo fazer artístico. Numa entrega intensa a cada palavra, o público reconhece e se emociona a cada intervenção.
Cesar Pivette cria uma iluminação bem conceituada para a obra e acompanha o lúdico cenário de Chris Aizner . No entanto o figurino não está bem conceitualizado.
São Paulo, Capital cultural do País, tem espaço especial para um público onde os valores éticos são protagonistas – mais ainda nos dias que correm, quando tudo se desfaz em um toque de celular.
Falar de nós, do que nos acontece, talvez seja o mais importante que podemos fazer para entender um pouco mais a violência que nos rodeia e o desânimo com o andamento dos tempos atuais e da humanidade.
“Eu não posso ensinar nada a ninguém, eu só posso fazê-lo pensar.”Socrates
Pamela Duncan – blog Pensamento www.pameladuncan.art.br
Alice Eugenia
Teatro Italia
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Até 26 de outubro de 25 instagram@julgamentodesocrates
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