Onde os canalhas pagam por seus crimes ?!#@&$
Nelson Baskerville dirige o espetáculo 17x Nelson – onde os canalhas pagam por seus crimes, reunindo fragmentos originais das 17 peças de Nelson Rodrigues em que navegou como pobre e famoso, faminto e talentoso, modernista e reacionário; tendo sido jornalista e crítico, cronista e contista, dramaturgo e folhetinista; contraditório, perfeccionista, otimista e trágico. Descobrimos um Nelson com positivismo romântico – nas frases … “Qualquer indivíduo é mais importante que toda a via láctea” e “Todo amor é eterno e, se acaba, não era amor.”
Nelson era um descrente da sociedade. Livre e sem culpa, não tanto por ser moralista no sentido pejorativo, mas por não acreditar que o ser humano fosse capaz de forjar tal mundo de felicidade. Assim criou um teatro que tratasse de temas perturbadores como único engajamento possível.
Nelson Baskerville, romântico e amante do autor, mergulha a fundo no sentir e na obra de Nelson Rodrigues, apresentando-nos o lado escuro da lua do der humano, desnudando sua alma que pouco muda, revelando o lado hediondo que todo ser humano tem.
Direção limpa e bem desenhada, percorre grandes e pequenas tragédias já narradas e constatadas desde a origem da humanidade, desde o teatro grego.
Assim as personagens se debatem entre o pudor e a selvageria; moralistas e assassinos ao mesmo tempo.
Sintetizo esta montagem de Baskerville com um pensamento do próprio Nelson Rodrigues – “ No teatro temos que sentir – se não ficou tudo tao claro ok…mas não podemos deixar de sentir..”.
O público presente no teatro talvez não tenha lido os textos de referência do roteiro, mas já vivenciou ou conhece todas as cenas : “alguém que”, ou contaram para ele uma história parecida de sentimentos de violência, paixões e desassossego.
Essa vertigem de emoções e personagens deixa a plateia em tensão constante, despertando sentimentos escuros e nobres ao mesmo tempo em todos e aí está a beleza dessa montagem; a provocação constante ao ser humano em vertigem de tensão e tesão ao mesmo tempo.
Um olhar pertinente sobre os tempos que vivemos, mas penso, em contradição ao título da obra, que os vilões não serão punidos. É pedir demais a humanidade.
O grupo de atores, bem escolhidos para cada papel, tem seus ápices (quinze minutos) de plenitude em cena. Destaco a performance de Bruna Martins, Afonso Bispo Jr-Dugg Mont, Monique Ferreira, Tiago Melo, Yiago Renno, Yuri Feltrin Thiago Renno, Tiago Casado, Tiago Melo, Nanda Marques e Guilherme Zanela.
Todos entram com paixão e vontade de arte nas veias. A entrega é visceral a cada cena: Carol Rainatto, Dandara Terra, Fernanda Marques, Gustavo Martini, Isabela Pazzetti, Jessyca Pacheco, Laura Carvalho, Leonardo Miranda, Manuela Nahas e Sabrina Larisse.
A paixão penetra no público que, encantado pela magia da proposta do diretor e equipe, vibra plenamente a cada intervenção do grupo.
A trilha sonora criada por Nelson Baskerville completa a bela encenação; a iluminação de Fe Azevedo e Manu Naha propiciam climas perfeitos para cada momento .
O figurino não consegue definir um conceito acorde à proposta de montagem.
O diretor é assistido pela artista Brunna Martins que faz a preparação do elenco. Detalhista e intensa profissional a dar suporte à direção, criando a prontidão precisa para a montagem .
Longa vida à pesquisa, engajamento e arte visceral de Nelson Baskerville. No olhar do eterno e clássico Nelson Rodrigues, o diretor nos entrega .um momento de plenitude para a arte . Em momentos que precisamos sentir mais para reverter os tempos que vivemos .
Pamela Duncan
Alice Eugenia
www.pameladuncan.art.br blog Pensamento
Espaço Barra S.P.

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