Para abrir corações e mentes
A Companhia de Teatro de Heliópolis tem uma vasta trajetória voltada à comunidade a qual pertencem: sentimentos, aflições e lutas diárias. Tudo isto está vivo nas montagens do grupo.
Sob o comando do talentoso diretor Miguel Rocha, desenvolve nesta montagem um tema forte que permeia quase todas as comunidades – a reinserção social após a saída do cárcere de alguns de seus habitantes. A sociedade, como um todo, poucas vezes se importa com o futuro das pessoas que estiveram confinadas em condições muitas vezes deploráveis e o seu pós liberdade.
Entender com o coração e a mente este novo cidadão, sujeito de direitos e deveres, é algo titânico.
O encenador mergulha num panorama cheio de conflitos perdas e desilusões. Nesta sua proposta, em parceria com a cenógrafa Tellumi Helle, cria um espelho d’água onde os atores – de ótimo preparo corporal e coreografias bem desenhadas, Cristiano Belarmino, Dalma Régia, Davi Guimarães, Jucimara Canteiro, Klavy Costa e Walmir Bess – mostram memórias, conflitos e avidez por dignidade .
O espelho d’água limpa, reflete, molha e entorpece o indivíduo.
Como encarar esse novo mundo que se abre em uma sociedade, que não perdoa nem a si mesmo nem o outro, onde ainda existe a divisão entre centro e periferia?
Miguel Rocha apresenta-se como um criativo encenador com ideias que provocam o pensamento e sentimentos do espectador
A peça peca na direção de atores – deveria desenhar com mais preciosismo a interpretação dos mesmos porque quando o verbo aflora , em um primer olhar, o trabalho perde peso. Vale investir na contínua preparação do grupo.
O teatro e ator – nada salva uma obra se o intérprete não transmitir na voz e na expressão o texto escrito.
Dione Carlos constrói a dramaturgia de forma clara, singela, criativa e mostra a compreensão do tema exposto pelo diretor e grupo.
A música e a colocação dos intérpretes em outro plano do palco é um acerto da direção. Alisson Amador e o grupo criam para cada cena um som, um sentimento, uma cor e brilham durante toda a montagem .
Miguel Rocha ilumina a obra poeticamente, com precisão em cada cena e cria a dramaticidade desejada.
A preparação corporal e coreografias que têm como condução de Erika Moura, mostram preparo árduo dos intérpretes para a realização das partituras corporais bem elaboradas. Precisas e intensas.
Vale nomear todos os que participam: Miguel Rocha, Diogo Granato, Janette Santiago, Marina Caron e o coletivo .
A Companhia de Teatro de Heliópolis tem muito a celebrar com este trabalho e suas parcerias, possibilitando investir em um produto requintado e preciosista trazendo para a urbe grande sentires que muitas vezes não são expostos em outros olhares da cidade.
Tudo é perto e longe demais para nossos corações e mentes. Conhecer outros sofrimentos de pessoas que moram perto e longe da nossas casas é fundamental para mais empatia e solidariedade. Cria-se, assim, um sentimento comum nesta grande urbe .
Pamela Duncan
Alice Eugenia
Blog Pensamento – www.pameladuncan.art.br
Sesc 14 bis- Teatro Raul Cortez
Rua Dr Plinio Barreto 285 Bela vista
site:sescsp.org.br/14 bis
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