“Horror, horror …”– Para que não se repita
— “ Horror,Horror“. Esta célebre frase do Coronel Walter E. Kurtz (Marlon Brando) no filme Apocalypse Now, descreve o que é a guerra, o lado escuro da humanidade – e de nós mesmos – nessa situação de perversidade total.
A escolha do texto “As Aves da Noite”, da premida escritora Hilda Hilst, vem como uma luva aos tempos que vivemos: de guerras sem fim e de mortes de inocentes em vários cantos do planeta .
Hilda viveu nos tempos da ditadura; teve de se esconder e trocar de endereços rapidamente durante esse período. Sensível, teve o olhar da Segunda Guerra Mundial e das atrocidades perpetradas no Brasil, sem vendas nos olhos. Belo texto de uma mulher vivendo intensamente o seu tempo.
A direção, cenografia e concepção do talentoso Hugo Coelho constróem a encenação coerente com o texto que lhe foi entregue, nos fazendo ver o “ovo da serpente”, gestado nos dias de hoje, em que a violência e as guerras tomam um rumo que não esperamos.
A cenografia delineada pelo artista choca logo na primeira imagem , com jaulas herméticas e sem saidas nas quais as personagens, aprisionadas, mostram momentos vividos nas prisões de Auschwitz ou, talvez, de qualquer país latinoamericano, africano, do oriente médio, onde seres humanos são submetidos a tortuta psíquica, emocional, declinando em sua saúde e morrendo aos poucos. Coelho finaliza a peça com um momento onde o público estremece -dezenas de sapatos caem do alto da caixa cênica num barulho ensurdecedor e seco de queda. É o que restou de seres humanos que um dia foram como nós .
Os atores, experientes em seus ofícios, comovem nas suas falas. Abrilhantam a proposta do Diretor. Destaco Walter Breda – O Joalherio, e Regina Maria Remencius – intensa e com tempos dramáticos exatos na sua performance.
O desenho de luz do experiente Fran Barros marca os momentos de cada cena com virtuosismo.
A música original e desenho de som – de Ricardo Severo – criam os climas exatos para cada momento .
O figurino de Rosangela Ribeiro não acompanha o conceito proposto pelo diretor; a escolha dos tons e tecidos para a composição das personagens fogem do clima da obra.
O espetáculo soa como grito de reflexão: por vezes nos esquecemos ou não acreditamos que tudo isto tenha acontecido no século passado e nunca mais se repetirá. Não é assim…
As Aves da Noite – o pensamento, a reflexão e o sentimento que nos levam a pensar a violência hoje.
Pâmela Duncan
Alice Eugenia– revisão
Blog pensamento
www.pameladuncan.art.br
Temporada
Teatro Arthur Azevedo
De 6 a 9 de junho – Quinta a sábado, às 21 h, e Domingo, às 19 h.
De 14 a 16 de junho – Sexta e sábado, às 21 h, e Domingo, às 19h.
Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca. São Paulo/SP.
Tel.: (11) 2604-5558.
09/06 (domingo) – Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público.
Teatro Paulo Eiró
De 20 a 23 de junho – Quinta a sábado, às 21h, e Domingo, às 19h.
De 28 a 30 de junho – Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h.
Avenida Adolfo Pinheiro, 765 – Santo Amaro. São Paulo/SP.
Tel.: (11) 5546-0449. Capacidade: 467 lugares.
23/06 (domingo) – Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público.
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