Escrita por Albert Camus (Prêmio Nobel de Literatura por sua obra em 1957) em 1942, a peça narra a história de Gaius Caesar Germanicus, conhecido por Calígula, Terceiro Imperador Romano, reinante entre 37 e 41, que marcado historicamente pela sua natureza extravagante e às vezes cruel. Calígula é o filho mais novo de Germânico e Agripina, bisneto de César Augusto que irrompe em cena após a morte de Drusilla, sua irmã e amante, para expressar seu desejo de reverter o impossível – a lua, ou a felicidade, ou a vida eterna , seu novo programa de vida – é preciso ser lógico até o fim, a todo custo e sua descoberta do que acarretará como sendo a verdade absoluta – os homens morrem e não são felizes.Calígula constata o absurdo e decide levá-lo às últimas conseqüências, perdendo limites de poder, liberdade e razão, negando todos os laços que o prendem ao gênero humano. Definida pelo próprio Camus como uma tragédia da inteligência, Calígula traz a compreensão de que ninguém pode salvar-se sozinho, nem pode ser livre à custa dos outros.
Assim começo o ano refletindo sobre esta obra.
Por problemas de agenda do ano passado assisti a estréia e não consegui escrever. Talvez tenha levado este tempo, assistindo a outros trabalhos, para refletir sobre a montagem.
Estamos ante um trabalho bem produzido, com equipe profissional bem afinada e resultado que o público aprova a cada dia de apresentação.
A reflexão: são estes, tempos em que autores viram diretores, que viram cenógrafos, que viram figurinistas ,que fazem trilhas sonora, que podem virar atores-diretores e até produtores virando diretores e por aí vai. Constato uma banalização da figura do diretor, como se dirigir fosse tão somente escutar um texto e/ou determinar marcações de entradas e saídas para os atores em cena.
Pelo todo dito quero falar do protagonista deste trabalho que é o diretor-poeta Gabriel Villela, com proposta clara de montagem, direção de atores e pensamento cênico, algo raramente visto nos últimos tempos nos palcos da cidade.
Villela não faz concessões.
Sabiamente, na sua análise, aproveitou ao máximo fraquezas, talentos e limites da interpretação de alguns atores.
Delicado nas soluções cênicas, afina o elenco, tendo destaque o ator Pedro Henrique Montinho, numa interpretação comovente e fina.
Vale a pena começar um 2009 assistindo ao trabalho de um diretor e equipe que se renovam a cada montagem, nos surpreendendo com um texto atual, otimamente adaptado – em destaque o escritor Dib Carneiro – tradutor, cheio de pensamentos necessários e contundentes nestes tempos difíceis que nos tocam viver.