Só uma mulher em cena
A montagem é inspirada no livro publicado por Charlotte Perkins Gilman (1860-1935), O Papel de Parede Amarelo.
A obra original trata do confinamento e da perda de identidade de uma mulher. Texto sempre atual porque histórias se repetem em diferentes lugares do planeta, e nos dias que correm, com extremada violência.
Falar de uma mulher que se espelha em outras, anônimas e sofridas – daí a importância desta obra a percorrer o tempo como os clássicos no teatro.
O roteiro, na interpretação de Gabriela Duarte, caminha por todo este universo com delicadeza e poesia; atriz com experiência em variadas mídias, mostra-se segura no domínio do palco. Só senti, em alguns trechos, a necessidade de sentimentos mais viscerais, permitidos pela obra, criando assim uma performance mais forte.
O destaque da montagem, as diretoras Alessandra Maestrini e Denise Stoklos, desenham um solo que entrelaça teatro físico e confissão poética; duas mestras do teatro e do corpo em cena, nos entregam uma performance precisa, unindo corpo e sentimento, surpreendendo-nos a cada movimento.
A criação da luz idealizada por Cesar Pivette, encanta com cenografia de belíssima concepção visual.
O cenário de, Marcia Moom, cria uma instalação pop de distintos tons de amarelo, onde a intérprete se digladia entre o texto e esse mar de cores e intervenções mágicas . É uma prisão colorida, cheia de boas opções para viver feliz e não acontece! Mas a personagem não se rende.
A ambientação sonora e sonoplastia de Thiago Gimenes e Tiago Saul, encantam pelo conceito da obra.
O figurino de Leonardo Castro não está bem conceituado – não se entende a proposta do artista e sua escolha não caminha com a visão da direção e o contexto da obra.
É uma produção requintada em todos os aspectos técnicos e na escolha de profissionais com vasta experiência no métier.
Gabriela Duarte se joga em um solo – o ponto alto da carreira de um ator; talvez pela necessidade espelhada que todas que temos, em algum momento, de falar de nós – e tentar entender o que nos acontece ou não acontece em nossas vidas.
Estamos e um movimento violento, insalubre e perverso. Sem vendas nos olhos nem desculpas bárbaras e assim as enfrentamos de olhar direto. O que fazer? Resta nos expor e tentar, talvez, a compreensão pela mente e o coração.
Gabriela Duarte surpreende e traz um espetáculo para todos os gêneros que desejem começar a se escutar mais e viver com mais respeito .
Teatro Faap
Rua Alagoas, 903 – Higienópolis – São Paulo – SP
Temporada: De 10 de junho a 30 de julho. Terças e quartas, 20h.
Temporada: De 10 de junho a 30 de julho. Terças e quartas, 20h. Duração: 60 minutos.
Pamela Duncan
Alice Eugenia– revisão
Blog pensamento
www.pameladuncan.art.br
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