Puma – Exaustão

Puma é um monólogo que discute as relações tóxicas entre um escritor e seu pai moribundo. 

 

Foca, também, nas três gerações de escritores de mesma família – avô, filho e neto – vivendo em uma mesma casa porque não conseguem se desvencilhar uns dos outros – uma dependência marcada por críticas, boicotes, amor e ódio. 

 

Puma, o personagem principal, é um bicho solitário, acuado e arisco – pleno na sua dor e insatisfação. 

 

Interpretado pelo ator Ricardo Gelli que traz à encenação todo vigor, maturidade e sensibilidade para dar vida a este personagem visceral, ele coloca   profundidade e entrega; evidencia estar em momento de alta intensidade interpretativa. Conduz o texto com brilhantismo e domínio total do ofício de ator.

 

O autor Sérgio Mello mostra-se moderno, tomado e antenado com o tempo pandêmico e pós-pandêmico que hoje se nos apresenta – violento.

 

Trata-se de um texto urbano, de um autor para se acompanhar por sua inteligência, por sua profundidade literária e por sua  paixão.  Quanto mais neste feliz encontro com o ator.

 

A cenografia – instalação de Ricardo Gelli, impacta como obra de arte bem conceituada, criando o ambiente cerebral e patético da situação vivenciada pelo intérprete – belíssima!  

Unida ao desenho de luz de Caetano Vilela, constroem o clima único, prestando à encenação a cor exata da tragédia.

 

Faltou, no entanto, à direção de, Alexandre Reinecke maior diálogo entre autor, ator e situação. 

 

O diretor não cria nuances na personagem e permite ao ator iniciar a verbalização do texto em um tom interpretativo “over”. Finaliza a intensidade de como iniciou –   não aflorou o sentimento; não apresentou a pausa para cada situação…  até a quebra da “quarta parede” poderia ter sido melhor pensada e elaborada – o como e quando acontecer para que não se perca a intensidade de um texto primoroso.

 

 A obra é viva: nela, rever situações – momentos para reajustar e repensar cenas e propostas. Nada é definitivo. Vale a pena apostar.

 

O futuro não chegou e nem chegará, talvez, para nós! Em dias sombrios, de violência explícita e implícita agora demostramos o que realmente somos: bichos solitários, sem rumo certo. 

 

Pelo aqui expressado, deixo meu convite a assistir Puma –  um ator, um autor e uma equipe fazendo arte e mostrando que a arte está viva e plena nas escuras ruas do Bom Retiro a noite.

 

Pamela Duncan

 

Alice Eugênia

www.pameladuncan.art.br blog Pensamento-critica

19 de janeiro a 26 de fevereiro de 2024
Sextas, às 19h30; sábados, às 18h, e segundas, às 19h30
Oficina Cultural Oswald de Andrade – Sala 11

Rua Três Rios, 363, Bom Retiro

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