“A liberdade é grande demais para ser enfiada pela soleira de uma porta fechada.”
A peça está baseada na história de Harvey Mil, um político e ativista gay norte americano. O primeiro homem abertamente gay a ser eleito a um cargo público de vereador, na cidade de São Francisco.
A política e o ativismo gay não foram os primeiros interesses de Milk. Em 1976, em meio a uma migração de homens homossexuais que se deslocam para o bairro de Castro, em São Francisco, nasce nele o seu interesse político a causas humanitárias e civis. Suas campanhas teatrais deram-lhe crescente popularidade e Milk obtém um assento na câmara municipal de San Francisco em 1977, como resultado das mudanças sociais mais amplas que a cidade estava vivendo.
Milk exerce o seu mandato por 11 meses e é resposável pela aprovação de uma legislação protetiva sobre direitos gays . Em novembro de 1978, ele e o prefeito George Moscone são assassinados. Confltos entre as tendências liberais, resistência conservadora à mudanças, foram evidentes nos acontecimentos que antecederam aos assassinatos.
Ao pesquisar a vida de Harvey, lembrei-me de Garcia Lorca, o poeta e escritor espanhol, assassinado por uma ditadura; um intelectual a pensar ideias humanistas e justas que incomodava o status quo… ainda mais gay??? Todos os motivos se somaram para a sua morte numa sociedade ultraconservadora, religiosa e perversa.
No espetáculo “Eu não sou Harvey …” o diretor e ator Ed Moraes e a dramaturga Michelle Ferreiro tentam trazer a trágica histórica do ativista para os dias de hoje, recheada de interrelações cotidiana mas, às vezes, nem sempre bem desenhadas na dramaturgia, já que o público para entender a peça precisaria conhecer a inteireza da luta de Milk. No entanto, o mérito da proposta dos artistas é a denúncia dos ainda e atuais momentos de luta e afirmação pelos quais passam os gays, agora LGBTQIAPN+. Os anos se passam mas as histórias tristes, escabrosas e as mortes infames se repetem. Faltou à dramaturgia melhor esclarecer este link para o público.
Assim, também, há a necessidade da direção de Michelle Ferreiro, criar um direcionamento das emoções da tragédia para um final já esperado.
Interpretado pelo ator Ed Moraes, artista completo, que entrega-se ao espetáculo com brilho e conhecimento do ofício, ele segura o monólogo dando intensidade à personagem criada, mostrando performance sensível às causas humanistas.
O espetáculo tem o tom de denúncia, levando-nos a reflexão do porquê existirem seres com tantos ódios, capazes de destruir o outro para acalmar a sua raiva.
Neste tempo de intolerâncias vívidas, peças como esta são fundamentais.
O debate se abre e a arte cumpre um de seus papéis que é o de provocar o pensamento após a sessão de teatro.
Pamela Duncan
Revisão Eugenia Alice
Blog Pensamento – um ponto de vista.www.pameladuncan.art.br
Centro Cultural São Paulo
Sala Jardel Filho – 321 lugares. Acessibilidade para PCD.
Rua Vergueiro, 1000
Site: centrocultural.sp.gov.br
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