XX Festival de teatro de La Habana 2023

Para enriquecer corações e mentes

Minha passagem pelo XX Festival de Teatro de La Havana 2023 foi uma experiência viva, criativa e comovente. Fui convidada a ministrar uma Oficina de Teatro Físico/interpretação.

 

Sempre que penso no fazer teatral em outros países, até mergulhar nas peças teatrais, não imagino nada – o processo é uma incógnita. 

 

Antes de viajar pesquisei autores e obras para conhecer mais de perto o fazer teatral desta histórica Ilha.

 

Ao chegar comecei assistindo o teatro cubano, em muitos casos  ousado, sem censura, irreverente e bem produzido; comecei com

”Assesinato en lá mansion Haversham”, do grupo Nave Oficio de Isla, com direção do jovem talentoso Ledier Alonso Cabrera, que brilha nesta montagem e desenha ótima encenação. 

 

O grupo Tuyo , trouxe, entre outra  peças, “Clowncierto“ com a direção do criativo músico-ator Ernesto Parra – grupo formado por músicos-atores, excelentes maestros a navegar em diferentes ritmos, brincando com a plateia, irreverente e humorado, o público se encantava e não parava de aplaudir. 

 

O Grupo La Caja Negra mostrou ampla pesquisa e comprometimento com a arte, promoveu  mergulho requintado do coletivo em cena com a peça “Ofelia”. O mais ousado me pareceu a versão de “Ana Frank, apneia en el tiempo” do Grupo Ludi. Ao término da peça, a certeza de que a montagem não estrearia em São Paulo, pelas conotações sexuais dispersas e pelo fechamento em cena de nudez da personagem central, Ana Frank. Essa versão de ” O diário de Ana Frank” tem como  ponto de partida o texto de Agnieska Hernandez com  adaptação de Frances Goodrich y Albert Hackett, na direção de Miguel Abreu.

 

A peça Yarini, de um grupo de teatro universitário da Faculdade de Havana, mostra a importância do teatro nas universidades com alunos atores se dedicando ao fazer teatral.

 

O público em Havana lota as apresentações com avidez de arte: comenta, faz suas críticas e pede mais no dia-a-dia do festival. Pude observar o esmero na confecção dos figurinos e acabamento das montagens: bem pensados, conceituados e elaborados. Os grupos locais viajam bastante pela Ilha, visitando diferentes cidades e países próximos – distantes também – participando de  festivais. Isto faz crescer o interesse em criar novas obras para  melhor se apresentar e adquirir  repertório.

 

A curadoria dos experientes artistas cubanos, encarregados de nos mostrar arte e teatro foi feliz,  pensada e avaliada criando diversificação de propostas. 

 

Dos grupos do exterior assisti o “Grupo Radiofônico de Colômbia Radio Escenica” e a sua obra “Mientras el cielo se esconde”. Com direção do talentoso Felipe Alvarez, a se apresentar como grupo coeso, denuncia o massacre acontecido na Colômbia entre 2002 e 2008, perpetrado por militares e a narrativa impõe sentimento e força interpretativa no uso da técnica de rádio-teatro.

 

 Para fechar minha maratona teatral assisti o Grupo Pitouch Company, de atores não franceses – cada um pertencente a um país diferente, algo muito comum na Europa,  pelas migrações, trouxe Antígona ,otra vez tengo ganas de pegarle a alguien. Espetáculo interativo e visceral,  um vômito social – tudo que aflige a Europa neste momento de guerra, refugiados, racismo e ódio, mesclando o passado (tão presente) de desaparecidos na América latina.

 

Cuba mantém-se firme na sua premissa de educação e cultura.

 

Um festival desse porte enriquece e faz querer aprofundar mais nossa arte para poder compartilhar com “teatreros” (artistas de teatro)  suas obras e conteúdos.

 

Que venham mais festivais na Havana para enriquecer nossa alma e pensamento” …. 

 

Pamela Duncan

Alice Eugênia – revisão

www.pameladuncan.art.br – blog Pensamiento

Sao Paulo Brasil

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