Neva

Entre a Ousadia e o Pensamento

Neva é uma peça escrita em 2005 pelo dramaturgo e diretor de teatro chileno Guillermo Claderón.

A peça se passa em São Petersburgo, então capitão do Império Russo, em um dia de 1905; não em um dia qualquer, mas, em 9 de janeiro de 1905, dia que ficou conhecido como Domingo Sangrento, quando manifestantes, marchando para entregar uma petição ao Czar pedindo melhores condições de trabalho nas fábricas, foram fuzilados pela Guarda Imperial.

Em uma belíssima e inteligente peça, Calderón nos fala de um Chile da década de 1970. De um processo vivenciado na Argentina e em outros países da América Latina. Brutal, genocida e bárbaro.

A partir desta reflexão – que a nós faltou no Brasil – o autor inicia sua discussão. Para que serve a arte teatral e a importância das ruas em nossas vidas

Paulo de Moraes, excelente diretor, a partir desta encenação também reflete a sociedade na qual vive e traz com seu grupo, em ótimo tempo, a  discussão. Conta com ótimos atores que se deslocam em cena como numa dança do verbo e a coreografia física.

A proposta da instalação de microfones, e toda a peça  neles apoiada, não acontece como a direção deseja ; quem sabe pela escolha do(s) modelo(s) do(s) aparelho(s) ou da sua equalização. Penso, por minha experiência,  tal recurso pode mostrar-se caro e delicado, criando um distanciamento cruel para os atores (e público): falarem, compreenderem-se e lidarem com os desajustes dos microfones. Para o uso desta e outras tecnologias há que se ter o “ideal”, senão…. Para pensar.

A iluminação,  de Maneco Quinderé, belíssima, marca cada espaço da instalação, bem concebida, de Paulo de Moraes.

Os figurinos não acompanham o conceito do espetáculo. Talvez tenha faltado aprofundar o diálogo com a direção.

Paulo de Moraes tem uma trajetória respeitável e à qual somos gratos pela sua pesquisa, pensamento e produção.

A vida de um artista e sua trajetória -obra, para isto é fundamental, entre acertos e desacertos, pensar, refletir e continuar.

 

Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se.

Kierkegaard 

 

Pamela Duncan 

Revisão- Eugenia Alice

Blog Pensamento – um ponto de vista.www.pameladuncan.art.br

Local: Teatro Paulo Autran – Sesc Pinheiros 

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